21/06/2008

Tony Wilson e sua fantástica fábrica de cultura pop









Por enquanto, como diria John Lyndon, o mesmo que com o seu Sex Pistols influenciou Tony e os garotos de Manchester a promoverem sua revolução, não há futuro na Inglaterra das new raves dos novos indies.


Por Monsterss
Quando li a notícia da morte de Tony Wilson, artífice da cena de Manchester - a Madchester -, fui tomado por um inconveniente sentimento de saudosismo. Sentimento que não convém porque é inoportuno; não cabe na biografia desta figura legendária, empresário, jornalista, produtor, visionário e protagonista de cultura (e sub-culturas) pop. Alcunha esta que, para ele, significava prática da liberdade. Anthony Wilson viu o futuro na música independente. Nos anos 80, lutou por ela e terminou fabricando pérolas do chamado indie na sua gravadora, a legendária Factory Records, residência de clássicos atemporais do Joy Division, New Order, Durutti Column, Happy Mondays.



Se na Factory o punk obteve uma aguda linha evolutiva, passando a ser identificado como pós-punk, foi no Hacienda, clube co-fundado por Tony Wilson (com o New Order entre os sócios), que o cenário musical de Manchester passou a ser reconhecido como matriz de cultura pop durante os últimos 20 anos. Mr. Manchester, como era conhecido, assim, tirou de Londres o foco do prolífico cenário musical inglês. Fez da cena de sua cidade uma referência mundial de vanguarda cultural. Fez o futuro acontecer.


As artes gráficas conheceram o talento de Peter Saville, diretor artístico da Factory e designer que fez com que posteres e capas de discos do Joy Division e New Order ganhassem o status de obras de arte. A produção musical conheceu o engenho inovador de Martin Hannet, que reorientou a sonoridade do pós-punk.


No campo dos negócios musicais, a partir da experiência da Factory, surgiram modelos de divulgação e produção musical diferenciados. A divisão dos lucros meio a meio mudou o rumo da relação entre bandas e gravadoras. Uma ação política: coloquem trabalhadores no poder para a vida começar a fazer barulho, como fizeram os operários da fábrica de cultura pop da Madchester, a de Tony Wilson.


Tony, you did a good job. Basically, you were right - Shaun is the greatest poet since Yeats. It has already been written, in the sinews of history and on the hearts of men. It's a pity you didn't sign the Smiths, but you were right about Mick Hucknall. His music's rubbish and he's a ginger. O padrão era o não-padrão. E a estética rock deu um passo a frente, dançante, reverente aos novos diálogos que surgiam entre funk, rock e tecnologia. Foi com uma certa Blue Monday (hit do New Order) que o mundo (im)pop colocou a acid house debaixo da língua.


Tony Wilson, o Mr. Manchester, um sujeito totalmente integrado com a lógica do seu tempo, agia como um dínamo, reagrupando, reforçando, reciclando fluxos criativos. Madchester, a cidade, a cena, deve seu reconhecimento histórico como fato sócio-cultural a Tony Wilson. Agora, ao lado de Ian Curtis e Martin Hannet, noutra dimensão, Tony Wilson deixa sua esperteza e sensibilidade como inspiração. Que assim seja, para que em muito breve a cultura pop chacoalhe o conformismo reconectando ousadia com criatividade.



Por enquanto, como diria John Lyndon, o mesmo que com o seu Sex Pistols influenciou Tony e os garotos de Manchester a promoverem sua revolução, não há futuro na Inglaterra das new raves dos novos indies.


Do filme "A Festa Nunca Termina" ("24 Hour Party People"), de Michael Winterbottom, que retrata a cena de Manchester, trago a seqüência final em que Tony Wilson conversa com Deus.