05/08/2009

MPB é Música Para Baixar



eduardo ferreira · Cuiabá (MT)

Foto: Fernando Anitelli e Richard Serraria + Bataclã F.C.

Uma movimentação nacional no segmento musical vem se constituindo de forma madura e consistente através de várias iniciativas coletivas, organizadas e super ativas, adiantando-se, e muito, em relação às políticas públicas deflagradas pelos poderes constituídos, buscando solucionar os inúmeros problemas que acometem a cadeia produtiva desse segmento. Na minha visão isso faz parte de um momento de profundas transformações nas relações de produção da sociedade brasileira e mundial.

A coisa é pra valer e as organizações formais e informais, junto com governos, sem governos, tá tudo se juntando numa mistura explosiva – uma explosão de amor e farta solidariedade. Prefiro acreditar que seja assim e assim quero me manifestar. Uso de minhas prerrogativas (absolutamente individuais) do direito à comunicação e só falo por mim e só por minha língua.

Em Porto Alegre durante os debates de lançamento do mais novo rebento dessa seara que se ergue dos subterrâneos, que é o MPB – música para baixar, a gente falou disso, da necessidade de reconstituirmos a idéia das grandes mutações, mas com algo de bom que sobrou do movimento hippie, do punk, do beatnik, da tropicália, do lirismo modernista de manuel bandeira, do niilista Nietzche, de Tristan Tzara a Stockhausen, de todos os povos e misturas, de todos os alquimistas, de todos os caldeirões mágicos e fenomelógicos, e a partir desse caldeirão, falar de amor, do amor que podemos sentir pelos outros, pelo que ainda nos resta de humanos.


Só podemos mudar as coisas dentro da perspectiva de novas lógicas ou de novas relações sociais, que vem alimentando todos os fóruns sociais, de tecnologia, de música, de cultura colaborativa, com o bordão – um mundo melhor é possível. Claro que é possível, é preciso acreditar e mais que isso, trabalhar para que novos paradigmas (auto-gestão e sustentabilidade) sustentem essa luta e consolidem a nova-velha humanidade que pode advir daí.

O MPB extrapola tudo que tenho visto por aí por que nasceu de um sonho de artivistas, de pessoas que entendem o mundo e as relações entre as pessoas como uma grande comunhão, global,compartilhada, radical mesmo, na raiz. Que venham das casas das pessoas, das salas de aula, dos bares, das vilas e favelas e colocar tudo para o todo, ter a grandeza e a coragem de quebrar monopólios e portfólios, de botar o autor no lugar dos comuns junto com os comuns por que de deuses a nossa história já está cheia e nós já estamos de saco cheio.

O jeito então é lutar e superar a lógica impessoal das insanas corporações, de pregar liberdade, amor, tecnologias livres e responsabilidade com a vida, com as pessoas, com o meio ambiente, enfim compartilhar tudo que fomos capazes de construir no correr da história humana.

Morre um modelo de produção selvagem e excludente dentro do capitalismo voraz que devora dignidades e desequilibra o jogo da vida colocando o futuro da humanidade em alto risco, seja pela gula, seja pelos excessos dos consumidores, provocados que são pela propaganda, criando um brinquedo atrás do outro. É tudo rápido demais, é tudo efêmero, quebre o brinquedo e veja, não há nada dentro (curiosidade de qualquer criança), quebre essa corrente do compre mais, quebre mais, junte o lixo, esconda debaixo da cama se for capaz. Não dá mais para se esconder debaixo do tapete da sala, meu caro!

As coisas não podem mais ficar para depois, a sociedade precisa estar atenta e se fortalecer, se organizando, combatendo esses males que são nocivos para todos, não para mim, nem para você só, é para todos. A responsabilidade é geral. Ninguém tem o direito de negar essa responsabilidade. Capitalismo prega egoísmo. Nós queremos a liberdade de escolher não ser egoístas, a gente quer escolher compartilhar e o mestre Paul Singer disse uma coisa numa reunião em Brasília que nunca esqueci. “Não vamos confrontar com ninguém. As armas são outras. Queremos é seduzir, colocar alternativas para a cultura e mais que isso, para toda a sociedade, de que existem outras formas de felicidade”, ou seja, a criação de uma humanidade mais lúdica mais aberta para a lindeza de um sorriso, mais aberta para repartir, comungar, celebrar com todos os irmãos que formam a grande comunidade humana.

O cara pirou? Não, cara, sonhei, sonhei um sonho que é possível, não precisamos esperar a tragédia para experimentarmos o gosto de se somar aos outros. Pergunto aos meus botões, por que as pessoas só se tocam na hora da tragédia, nas grandes catástrofes? Por que esperar o pior para construir o melhor? Somos a soma dos comuns e é uma delícia sentar em roda e tocar cantar dançar sonhar bailar sem medo de ser feliz, ninguém perde nada com isso todo mundo ganha com isso, dinheiro é ilusão dê um delete hacker na conta deles dá um limpa e pronto: são meros números aquilo não representa nada a não ser espoliação a exclusão a concentração absurda e hedionda que nos desconectou a todos. O momento nunca foi tão propício para podermos mostrar a força das construções coletivas.

O que parecia brincadeira de adolescentes está se espalhando e formando redes que, uma vez conectadas, nunca mais terá retorno.
O encontro MPB nos mostrou que estamos conectados na capacidade de nossas almas comungarem princípíos solidários.

Mas isso assusta, isso deixa muita gente com medo, sei disso, entendo até, mas acredite: ninguém perde nada, todo mundo pode ganhar por que as coisas a partir daí vão se transformar, os valores se ampliarão para outras esferas da percepção humana que é imaginativa, criativa. Não é se eximindo de responsabilidades que iremos resolver nossas terríveis diferenças, que geram fome, dor , indignidade. Claro que a coisa é complicada e esse texto encontrou desvios que guiaram minhas mãos, mas aceito e gosto do risco, são eles que alimentam, que fazem querer continuar, querer ampliar a luta, o que era para ser um artigo “jornalístico”, virou isso. Nem sei dizer o que é. Mas é o que sinto e o que me faz vibrar. (até aqui, escreveu, eduardo ferreira)

(passo a bola para everton rodrigues)
Para esse evento em Porto Alegre já contamos com a participação de diversos ativistas, tais como: José Murilo Junior, Gerente da Cultura Livre do Ministério da Cultura, Ronaldo Lemos da FGV, Sérgio Amadeu do Software Livre, Marcos Souza do Ministério da Cultura, Pablo Capilé – Abrafin e Espaço Cubo Cuiabá, Leoni – Músico e Compositor – RJ, Gog – Rapper e Poeta – Brasília, Jaqueline Fernandes – Griô Produções – Brasília; Eduardo Ferreira / osviralata/ Overmundo / Casa Brasil/A Fábrika – Cuiabá; Senhor F – Brasília; Teatro Mágico SP; Casarão Cultural – Belém do Pará; Banda Sol na Garganta do Futuro – Vitória.

O Movimento Música para Baixar – MPB, está em construção e nasce da necessidade de envolver economicamente mais grupos culturais desse país, não com a lógica do mercado excludente, mas com uma nova relação capital e trabalho apontando para os conceitos e práticas da economia solidária. Atualmente há uma grande demanda de diferentes agentes culturais no sentido da geração de renda a partir daquilo que criam. Necessidade, também, de rever a prática do jabá nos veículos de comunicação, que corrompe e impede as manifestações culturais em nosso pais.

Outro ponto de debate será a questão dos direitos autorais, as entidades representativas dos diversos agentes culturais e sua relação com as novas tecnologias. O MPB tem como objetivo debater e questionar o projeto de controle da internet (já aprovado no senado federal e em debate na Câmara Federal), perspectiva entendida enquanto reflexão à criação de ferramentas visando a democratização do acesso à comunicação, elemento indispensável à diversidade cultural.

Artistas e pessoas que atuam no âmbito cultural não são integrantes de uma classe superior, mas trabalhadores e trabalhadoras que possuem os mesmos direitos dos demais. O MPB pretende debater a economia da música em sua complexidade, desde a distribuição dos produtos, o preço justo, a produção cultural, o consumo consciente, o espaço das mulheres na cultura, o software livre, a cultura livre, as redes sociais, a gestão da internet, a democratização da comunicação, o direito autoral e seus mecanismos de controle por entidades que se colocam como representativas dos artistas.

Por isso é um movimento que visa trabalhar os espaços possíveis decorrentes da promoção de eventos em espaços públicos e privados, âmbito universitário, pontos de cultura com presença dos artistas e agentes que estarão envolvidos com a execução dos shows, além de oficinas e rodas de criação coletivas. A idéia é de que isso tudo culmine em discussões pelo país acerca da cultura livre em que tudo poderá se acessado e disponibilizado na internet de forma colaborativa.

Essa proposta vem sendo articulada por diferentes atores de áreas distintas da cena cultural brasileira como músicos, VJs, ativistas do software livre, produtores culturais, acadêmicos, agentes públicos. movimentos sociais, etc. O MPB entende que cultura hoje é esse amalgama humano composto por diferentes segmentos aglutinados numa rede colaborativa e propositiva de parâmetros mais igualitários de distribuição de renda.

0 comentários:

Postar um comentário

Leia isto antes de começar a escrever

Todos os comentários dirigidos a este blogue, passaram por moderação, caso o assunto aqui referido não tenha nada a ver com o assunto tratado, este será excluido automaticamente.

Caso este contenha palavras de baixo escalão, ou que de alguma forma venha a corromper a imagem deste não iremos nem mesmo ler, e este será devolvido com o silêncio.

Caso o mesmo seja de cunho provocativo, nós também iremos ignora-lo.

Mas caso este seja acompanhado de boas ideías, nos teremos o imenso prazer de responder com palavras de agradecimento, afinal o UH!zine funciona de acordo com suas vontades!.